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O Teatro na América: Séculos XX e XXI - Do moderno das ideias de intervenção social ao estudo do teatro físico e instintivo


Por: Mateus Freitas Paiva


“Porque somos assim, tão desconfiados? Ou melhor, porque tentamos ao máximo nos diferenciar dos outros? Será mesmo que a arte tem um único fim objetivo, ou é o homem que a transforma em pura idealização? Relativizemos o teatro desta ilusão que é a vida e recriemos nossa história.” 
 Fabio Brum, teórico e critico canadense do teatro em ‘A Introdução ao Teatro Moderno, a América de todo os sabores’. 1987

Não existe dúvida que nós seres humanos manipulamos o mundo a fim de gerar cultura, esta que muitas vezes foi discutida por dramaturgos, cada vez mais reflete a capacidade de criar reproduzindo o dia a dia, dando novo significado ao que atualmente conhecemos como Teatro. 
A criatividade humana revelou a agilidade na representação das situações reais. O teatro surgiu dessa necessidade de expressão dos sentimentos e dos conhecimentos por meio da representação. O teatro moderno é um exemplo claro de como se processou esta manifestação ao longo da história.
No século XX, vários artistas e diretores protagonizaram a transformação da arte. Em meio a conflitos político-ideológicos, o homem moderno passou a procurar novos meios de comunicar e de fazer críticas às estruturas sociais em que viviam.
Na América, o teatro desse período se viu obrigado a abandonar o realismo, que já não comunicava mais, encontrando outros meios de falar do individuo e suas relações sociais. Fazia-se necessária uma revolução na arte de representar.
O teatro passou a ser visto como um instrumento político de denúncia e inovação. A tragédia ganha força, pois segundo muitos autores da época a vida real não passava de dramas nos quais se sobressaíam os processos cênicos, que por vez foram se renovando e se nacionalizando, eliminando mais a linguagem na cena e fixando normas de representação.
A nova corrente artística que prevalece até os dias atuais, inicialmente não teve participação do teatro, pois este era considerado algo popular e que até então deveria passar por mudanças e se tornar autêntico. Somente no ano de 1921 o teatro americano trouxe inovações ao público, sugerindo as ideias de estranhamento e tensão.
Na década de 20, esta arte foi marcada pela reflexão social e psicológica reconhecida em todo o mundo. Eugéne O’Neill, mestre nos graus de tragédia e de pessimismo, foi o grande responsável por essa inovação. Além deste diretor, destacaram-se: Tennessee Williams, Clifford Oddets ''A vida impressa em dólar'', ''Que retrata a Depressão'', Thornton Wilder ''Nossa cidade'' e Arthur Miller com textos de crítica social, e Edward Albee que, em ''Quem tem medo de Virginia Woolf?'', fala do relacionamento íntimo entre os indivíduos.
Entre 1940 e 60, a experimentação nas artes acabou chegando ao teatro. Desafiaram-se a antiga tradição dos musicais e a popularidade, inspirando outros musicais e criando uma nova tendência. Estava aberta a chamada Era de Ouro, na qual se destacam o musical “Hair” que inovou introduzindo o nudismo e o Rock e a obra “Mostra-te Canadá” que é um reflexo da sua diversidade cultural no país que até então não tinha interesse nas artes cênicas.
Na América Latina, vemos um teatro rico em contradições, picos e abismos que se impõem como expressão dramática da contradição vivida pelo Modernismo. O México passa a ter um o teatro comercial que ganha espaço e passa a ser exemplo de popularidade e acesso democrático à cultura.
Visando inovar o instinto do teatro, os grupos latinos eliminaram a divisão tradicional entre o palco e a plateia, além da substituição do texto de um autor único por uma criação coletiva e da participação do espectador na elaboração do espetáculo. A figura do diretor tornava-se mais decisiva do que a do autor, característica que marcará a produção teatral do século XXI, segundo a qual a diversidade cultural da América finalmente alcançava seu auge, conquistando a chamada América de todo os sabores ¹.
Atualmente, o teatro continua a evoluir e a progredir a partir dos padrões e das propostas de experimentação teatral já mencionados, enquadrados, naturalmente, nos momentos históricos e políticos das sociedades atuais. O atual reconhecimento da importância do teatro nas suas funções relança novos desafios que exigem prioridades à formação de públicos mais exigentes e consequentemente cidadãos mais bem preparados que contribuam para o teatro.
Brasil: A visão teatral na Pátria Amada 
O começo do século XX marca talvez o período mais crítico do teatro brasileiro. O Movimento Moderno chegava para agitar as estruturas nacionais, promovendo educação no teatro e divulgando a cultura do país. Os textos Modernistas brasileiros buscaram dar mais autenticidade às situações, objetivando o contato maior com o público, principalmente por causa das ações dos personagens em relação à sociedade.
Num primeiro momento, trabalhou-se a experiência, com os chamados “Drama de Casca” e a preocupação com a “Verdade” na arte. Depois, foram se Multiplicando autores e obras, assim como outros gêneros, tendo em Coelho Neto um dos autores mais produtivos, que apesar de vivenciar o surgimento da cultura moderna no Brasil ², se dizia não comprometido com nenhuma escola literária.
Foi no fim da década de vinte que começaram a surgir peças teatrais modernas no Brasil, destaque para Oswald de Andrade e Álvaro Moreyra, representantes da transformação completa na concepção do espetáculo.  Porém, foi com a obra de Nelson Rodrigues que o modernismo se concretizou na dramaturgia brasileira.
Sua obra mais famosa Vestido de Noiva utiliza uma nova linguagem característica do Modernismo, abolindo a narrativa realista para contar a história de maneira entrecortada e difusa, onde aos poucos o espectador vai compreendendo o contexto.
A apresentação de temas proibidos e imorais, além da caracterização humana em prol da conscientização da sociedade são partes integrantes do Teatro brasileiro até meados da década de 60. O Teatro Moderno ganha importância nesse aspecto, por expor assuntos polêmicos de maneira aberta, profunda, democrática e com a riqueza de detalhes que permitem o espectador criticar, debater, pensar nas próprias atitudes e posicionar-se diante daquilo que participa e vê.
A reação nacionalizada e a criação de uma estética brasileira atingiu seu auge com o desenvolvimento da comédia no teatro, iniciada a partir dos anos 40. Surgiram grupos e companhias estáveis de repertório que permaneceriam ativos até a década de 60, os mais significativos foram: Os Comediantes, o TBC, o Teatro Oficina, o Teatro de Arena, o Teatro dos Sete, entre outros.
Quando tudo parecia ir bem com o teatro brasileiro, a ditadura militar veio impor a censura prévia a autores e encenadores, levando o teatro a um retrocesso produtivo, mas não criativo. Com o fim do regime militar, no início da década de 1980, o teatro tentou recobrar seus rumos e estabelecer novas diretrizes. Surgiram grupos e movimentos de estímulo a uma nova dramaturgia.
Enquanto os anos 80 foram caracterizados por um balanço desses impedimentos e uma retomada hesitante, os anos 90 já demonstraram uma diversidade de vertentes, estilos e temas.
O Teatro Contemporâneo Brasileiro passou a desenvolver em nosso teatro o hibridismo com outras artes, dando aos elementos da encenação novas tecnologias – luz, som, cenário, objetos – e novos poderes diante da velha dominação do texto.  A produção tratava-se, sobretudo, de um teatro que troca a ilusão de reproduzir a realidade pelo autoquestionamento sobre seus modos de fazer. O resultado era um espetáculo que integrava com fluidez a cultura regional à linguagem cênica, sem perder de vista a dinâmica colorida da tradição popular e as atrozes contradições da sociedade brasileira, uma verdadeira homenagem ao modo criativo de ser brasileiro. Neste contexto destaca-se o paraibano Ariano Suassuna, com a obra “Farsa da Boa Preguiça”.
Atualmente, o teatro brasileiro vive um dos melhores períodos, sendo o país um grande produtor de peças teatrais.  Esse tempo favorável está atrelado a uma série de mudanças que aconteceram ainda no passado. Entre os autores e atores atuais destacam-se, Otavio Frias Filho, Maria Adelaide Amaral, o besteirol de Miguel Falabella e Mauro Rasi, que evolui do humor inconseqüente para textos mais críticos, além de Fernanda Montenegro que é considerada a Dama do Teatro brasileiro.
Termino então este texto, parafraseando um dos maiores diplomatas brasileiros que certa vez afirmou a importância da arte para eternizar o ser humano:
“Não morre quem nos vivos vive.” Rui Barboza

Notas:  
¹ Referência a obra de Fabio Brum ‘A Introdução ao Teatro Moderno, a América de todo os sabores’. 1987. Editora AméricaPlus
² O Modernismo Brasileiro tem seu marco inicial com a realização da Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. O objetivo central foi trazer a reflexão sobre a realidade brasileira sociopolítica do início do século XX.

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Referencias Bibliográficas
Título: Uma breve história do teatro brasileiro moderno
Autor: Ferreira, Carolin Overhoff
Ano: 2008
Editora: Edições Universidade Fernando Pessoa. NELA - Núcleo de Estudos Latino-Americanos
Disponível para download em: <http://bdigital.ufp.pt/handle/10284/2650> 
Acessado em 12/03/2013

Sites:
Acessados em 21/03/2013 às 18h30min 
http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/teatro/backstage.php?s=21&id=22
http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/teatro/backstage.php?s=21&id=24
http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/teatro/backstage.php?s=21&id=23 
http://www.revistacapitu.com/materia.asp?codigo23
http://www.itaucultural.org.br/proximoato/pdfs/teatro%20coletivo%20e%20teatro%20ppolitic/sergio_de_carvalho.pdf
http://kuarteto.br.tripod.com/teatralizando/id4.html